Pesquisa de bacharel em Turismo pela UFRRJ analisa atuação dos órgãos públicos no campo da cultura em Duque de Caxias
Ao longo de todo o seu território, a Baixada Fluminense é conectada por uma rede de coletivos e movimentos socioculturais que mantêm viva a produção cultural da região. Através dela, são promovidos eventos e atividades dos mais variados gêneros que mobilizam a juventude baixadense e atraem também visitantes de outros locais do Rio de Janeiro.
Morador de Duque de Caxias, o bacharel em Turismo pela UFRRJ e aluno do Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Territorial e Políticas Públicas (PPGDT/UFRRJ), Marlon Dias, aproveitou os espaços criados por eventos culturais, tais como os organizados pelo coletivo Fábrica de Apoio à Linguagem Artística (F.A.L.A.) e pela Roda Cultural Família Lanatanpa, como uma oportunidade para expor seus trabalhos como pintor. Em uma dessas exposições, o estudante percebeu um distanciamento entre a parcela da sociedade civil que movimenta a cena cultural de Caxias e o poder público do município.
“Ao passo em que conhecia um grupo e outro, eu notei que todos eles, mesmo acontecendo ao lado da minha casa, não eram tão visíveis como geradores de impactos socioculturais que são. Então, em uma dessas exposições, me perguntei: ‘O que acontece, aqui em Duque de Caxias, para que esses grupos que promovem iniciativas de políticas culturais não estejam sendo adequadamente reconhecidas como tais pelo Estado e pela sociedade em si? Por que não é dada a devida visibilidade a eles? Qual a relação que eles têm com as organizações governamentais?“, conta.
Tais inquietações de Marlon serviram de ponto de partida para seu trabalho de conclusão de curso Gestão Cultural na Baixada Fluminense: uma análise das Políticas Públicas no Município de Duque de Caxias – RJ. Nele, através de uma coleta de dados e entrevistas com participantes do cenário sociocultural de Caxias, o pesquisador se propôs a caracterizar o setor cultural do município, descrever suas políticas públicas de cultura, identificar quem são os atores que participam da elaboração dessas políticas e, por fim, entender como é feita a gestão cultural no município pelos órgãos públicos.
Principais conclusões
Entre os principais resultados da pesquisa, está o diagnóstico de problemas estruturais na Secretaria de Cultura e Turismo de Duque de Caxias, refletidos, sobretudo, em seu quadro de funcionários constituído majoritariamente por cargos comissionados, e não concursados. “São profissionais que, de gestão em gestão, são modificados, o que impossibilita uma continuidade no planejamento territorial do município”, explica Marlon.
Além da falta de servidores qualificados, o desenvolvimento de políticas públicas culturais no município também é prejudicado pelo cenário de contingenciamento de gastos que ele vive. Sem o devido apoio do poder público e os benefícios que ele traz – como, por exemplo, suporte financeiro, espaço, visibilidade – , desenvolver projetos se torna um desafio para os produtores culturais da região.
Ainda assim, de acordo com a pesquisa, os movimentos socioculturais de Caxias, em conjunto com a sociedade civil, são os protagonistas da disputa a favor do campo da cultura do município. Mesmo sem a participação ou fomento governamental, esses grupos se unem em redes autônomas de atuação que se fortalecem política e culturalmente para que suas demandas sejam atendidas. Um exemplo dessa atuação é a presença de integrantes do movimento em cadeiras do Conselho Municipal de Política Cultural, onde reivindicam o direito e o acesso à cultura diretamente com os governantes.
Um novo olhar sobre a Baixada
Para Marlon, além de contribuir para uma melhor gestão cultural de seu município, o objetivo de seu trabalho também é estimular discussões acerca do potencial da Baixada Fluminense enquanto região que fomenta a cultura popular. “Espero que a minha monografia sirva como peça-chave para a compreensão do potencial cultural e turístico da Baixada Fluminense em si, de modo a rebater todo o contexto midiático e simbólico que a colonialidade do sistema capitalista impõe na construção da imagem da Baixada – muitas vezes somente associada à violência, e não à violência do Estado frente a banalização da cultura popular”.
Recentemente, a pesquisa de Marlon foi reconhecida com o Prêmio Emergencial Cultural Paullo Ramos – primeiro edital de incentivo à cultura organizado pela Prefeitura e Secretaria de Cultura e Turismo de Duque de Caxias -, que utiliza recursos do Fundo Municipal de Cultura para contemplar produções culturais de diferentes áreas assinadas por moradores do município. Conquistado através da pressão da sociedade civil, o edital faz homenagem ao falecido artista plástico Paullo Ramos, fundador da primeira galeria de artes de Caxias e um dos entrevistados para a pesquisa.
Por João Gabriel Castro, estagiário de jornalismo da Coordenadoria de Comunicação Social da Universidade Rural (CCS/UFRRJ)
Evento Artistando na Pracinha 2020 | Crédito: Paula Roberta/Coletivo FALA)
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